A aula era de Política e Organização da Educação Básica no Brasil. A professora pediu que os alunos se dividissem em seis grupos e propôs um exercício: entregou duas fotos para cada grupo discutir quais indicadores humanos (renda mensal, taxa de urbanização, escolaridade, taxa de fecundidade, entre muitos outros) poderiam ser aplicados de acordo com o que era mostrado nas imagens. A segunda parte do exercício era mostrar para a classe as fotos e comentar sobre os indicadores que o grupo identificou.
Um dos grupos recebeu duas fotos com crianças. Uma das fotos mostrava crianças trabalhando e a outra mostrava crianças num parquinho. Eis a segunda foto:
Depois de o grupo apontar os indicadores relacionados às fotos, a professora perguntou se o grupo achava que também era possível aplicar algum indicador relacionado à renda. E um aluno (branco) respondeu:
– Eu acho que não, professora, porque em nehuma das duas fotos tem crianças das classses A e B, por exemplo. Aparentemente, são todas de classes mais pobres.
Uma aluna (também branca), de outro grupo, comentou:
– As crianças da segunda foto estão brincando. Só porque elas são morenas não quer dizer que elas não sejam da classe A e B. Não dá pra afirmar isso. Isso é preconceito!
Pronto, a polêmica foi criada. Vários alunos se manifestaram – inclusive eu – defendendo um ou outro ponto. O aluno defendia seu ponto de vista:
– A foto é de um lugar fechado. Provavelmente uma creche ou orfanato. Não se trata de um playground de um condomínio fechado ou de uma praça, por exemplo. E eu acho que o fato de as crianças serem morenas também é um indício de que elas sejam de classes mais pobres, sim. A professora acabou de falar sobre o sistema de cotas nas universidades. É comprovado que, no Brasil, não dá pra dissociar a questão financeira da questão da cor/raça. É só olhar pra nossa classe mesmo. Quantos de nós somos morenos ou negros? A maioria ou a minoria? Isso é falso moralismo, isso sim!
A maioria da classe parecia ser contra a opinião do aluno. Eu não.
Se mostrarmos essa foto para 100 brasileiros e perguntarmos “você acha que as crianças da foto pertencem às classes A e B ou às classes D e E?” o que eles responderiam? Eu, imediatamente, responderia que são crianças da classe D e E. Não vejo preconceito nisso. Concordo com o aluno. Isso é uma constatação, e não um conceito pré-formulado sem conhecimento mais aprofundado (preconceito) sobre crianças morenas.
Antes de acusar alguém de estar sendo preconceituoso, que tal refletir sobre você mesmo não estar usando de falso moralismo?
Acho que a polêmica foi pra inglês ver. É que os uspianos adooooram ser diferentes do geral e acabam sendo mais iguais do que pensam.
O que acontece é que esse mundo é pautado em estatísticas e elas mostram que a maior parte dos negros ainda não tem o mesmo acesso que os brancos aos altos cargos e também nunca estão em maioria nas escolas elitistas.
Estatística serve pra isso. Matematizar o que é complexo, a ponto de tornar o objeto totalmente generalizado…e quem dirá estereotipado, como é o caso.
Sei lá, acho que o aluno que pensou se tratar de preconceito, na verdade, estava com a consciência pesada…
rs!
bjos, Rogerito!
Pois ééé, Claudia, pertencemos a essa raça de uspianos (olha a generalização…rs).
Bjão!
Mas eu não nos exclui, darling!
😉
Infelizmente no mundinho uspiano tem mta hipocrisia… rs! Eu sempre lembro dos hippies de shopping center da FFLCH e me revolto! rs
🙂
O buraco da educação e do preconceito é bem mais embaixo, né, Rogereto?!
Bjs