Eu estava indo trabalhar hoje de manhã, no metrô, um tanto sonolento, até que uma cena me fez despertar.
Era 8h23 (eu tinha acabado de olhar no relógio). Eu e mais um monte de pessoas esperávamos o trem na plataforma da estação Ana Rosa. O trem chegou, eu entrei e, logo em seguida, uma mulher de uns 30 anos, muito bem arrumada e maquiada, também entrou, mas ficou parada na porta, dificultando a entrada das demais pessoas.
Uma outra mulher, com um palm top na mão, também aparentando uns 30 anos e também muito bem arrumada, ao se deparar com o obstáculo humano na porta, protestou:
– Você poderia sair da porta pra gente poder entrar?
Mostrando-se muito irritada, a mulher que havia parado na porta respondeu:
– Ah! Eu vou descer na próxima estação!
– A maioria aqui também vai descer na Brigadeiro. Olha como o corredor está vazio – argumentou a mulher do palm top, com muita calma.
– Se você quer ir para o corredor, então vai!
– Eu bem que gostaria, mas não dá porque você ficou parada na porta – justificou a mulher calma.
O trem partiu e ficamos bem próximos à porta: a mulher irritada, a mulher calma e eu. E a discussão continuou:
– Eu estou grávida e não estou nada bem! Não encoste na minha barriga! – Exclamou a mulher irritada.
– Eu não encostei na sua barriga. E se você não está bem, o problema não é meu.
– CALA A SUA BOCA QUE HOJE EU NÃO ESTOU NADA BEM! – Gritou a grávida, estremamente nervosa.
– A boca é minha e eu calo se eu quiser. E eu não quero calar. Você está errada e não tem educação – revidou a mulher calma.
Devido à minha proximidade em relação às duas mulheres, fiquei apreensivo, com receio de que as duas mulheres começassem a se agredir. Mas a discussão parou e todos ficamos de frente pra porta. “A irritadinha se tocou”, pensei. Mas eu estava enganado.
Assim que as portas do trem se abriram na estação Brigadeiro, a grávida bateu forte com as duas mãos nas costas da mulher calma, fazendo-a cair no chão da plataforma da estação, o palm top voando longe. Não satisfeita, a grávida estava partindo pra cima da mulher calma, que ainda estava no chão. Mas eu a impedi.
Por trás dela, segurei os dois braços e os dobrei em direção ao abdome, imobilizando-a.
– ME SOLTA! ME SOLTA QUE EU VOU DAR NA CARA DESSA VACA!
– Não, você não vai porque você está errada – falei, enquanto eu a arrastava em direção à escada rolante.
Todos os usuários do metrô observavam a cena. Olhei pra trás e vi que duas pessoas estavam acudindo a mulher que estava no chão. Nisso, a grávida conseguiu se desvencilhar dos meus braços e voltou gritando ensandecida em direção à mulher que estava se levantando.
Eu a segurei e prendi seus braços novamente, com mais firmeza, enquanto ela gritava que queria bater na outra.
Arrastei-a em meio à multidão que esperava para subir a escada rolante e dei um leve empurrão, deixando-a no primeiro degrau, já em movimento:
– Agora vai! – ordenei.
Ela olhou pra trás, viu que o caminho pra voltar estava obstruído e então desistiu da agressão. Subiu as escadas pisando forte.
Olhei pra trás novamente e vi que a mulher calma estava bem, já em pé e andando normalmente. Enquanto eu subia as escadas, as pessoas que passavam me olhavam, curiosas.
E fui trabalhar.
. . .
Agora eu fico me perguntando:
– E se eu não tivesse segurado a mulher?
– O que leva alguém a chegar a esse ponto por conta de um desentendimento no metrô?
– Cenas como essa não desencorajam as pessoas a lutar pelo que é certo?
– As pessoas não vão pensar duas vezes antes de pedir licença a uma pessoa que fica parada na porta impedindo a passagem?
– Qual é a responsabilidade do metrô nisso tudo?
Enfim… era o que o que o metrô tinha pra oferecer hoje.